sábado, 14 de março de 2009

O desbravador de sentimentos


John Coltrane entrou para a história como um desbravador, um Cristóvão Colombo do jazz, capaz de imergir num longo transe de acordes dissonantes e camadas de sons sobrepostas para voltar à tona saciado com suas paisagens recém-descobertas. Mas o Coltrane a quem devoto uma admiração fervorosa é aquele da fúria contida, do soprar suave que esconde uma dor avassaladora. Me emociona ouvir, como ouço agora, sua “voz” por entre as frases de Like someone in Love, I want to talk about you ou Alabama, para citar apenas três das muitas baladas a que deu vida em seus discos eternos (Stardust, Soultrane, A Love Supreme, Lush Life, Blue Train, Crescent e muitos outros). Nem Paul Desmond, nem Zoot Sims, muito menos Stan Getz, conseguem ser tão cálidos e emotivos com tamanha ternura. Ouvir Coltrane é se deparar com o sagrado, é render-se a uma epifania sonora que nos trará quem sabe alguma redenção.

Um comentário:

Paulo Cunha disse...

A Love Supreme é um disco que parece não ter sido feito na Terra.