terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Poupamos no essencial


Em Pedaço de Mim, Chico Buarque define a saudade como o revés de um parto. Pior do que o esquecimento, pior do que se entrevar. Nela, o compositor fala da mais devastadora de todas as formas de saudade: a do filho perdido. A minha é mais comum, já que diretamente ligada ao curso natural da vida, esse rio caudaloso que nos leva a lugar nenhum e mesmo assim fazemos questão de continuar navegando nele. É como se sentir manco, talvez. A consciência ininterrupta de que está faltando algo. Em vários momentos da minha vida eu me vi às voltas com essa forma de desamparo. Uma sensação muitas vezes imperceptível, mas que se tornou palpável a partir de 2003, quando meu pai morreu. Mesmo tendo passado dos 40 anos, ainda me defronto com um vácuo infantil, algo até certo ponto habitual entre os que perdem as pessoas que amam. Afinal, não existe limite máximo de idade para o sentimento de perda, muito menos o de orfandade. Somerset Maugham, de quem estou lendo as Confissões, conviveu por oito décadas com esse sentimento, e quando morreu, aos 91 anos, tinha ao seu lado a foto da mãe, que perdera aos oito.

Meu pai era um lastro, uma âncora, embora não num sentido clássico. Foi ele quem me direcionou, ainda jovem, para os prazeres da leitura e do cinema. Lembro bem do dia em que me falou de A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Eu devia ter uns 11 anos, e estávamos subindo a escada para chegar ao nosso apartamento. Aquele nome (que de imediato associei a uma fantasia de Julio Verne ou coisa do tipo) ficou encerrado como um pequeno tesouro que eu deveria descobrir mais tarde – ele apenas me deu o mapa. Não sei nem se meu pai leu esse livro, é possível que não. Mas ele estava ali para citá-lo, para me mostrar que a grande literatura não era feita, digamos, de um Harold Robbins. Também me ensinou a gostar dos filmes de Paul Newman, a amar o Flamengo e, mais tarde, a perceber que o vinho era muito mais do que uma bebida, e sim um amigo engarrafado, como diria Vinicius.

Acho que uma parte de mim ainda não se deu conta da perda de meu pai. É como se o inconsciente cobrasse a sua presença no meu cotidiano. Talvez por isso, sonhe com ele com alguma freqüência. Da última vez, foi um sonho ruim: recebia a notícia de que ele tinha se jogado de um avião em pleno vôo. Acordei com um gosto amargo e um certo alívio. Outros foram mais agradáveis. Num deles, jogávamos bola numa praia à noite. Uma praia estranha, precariamente iluminada por postes na rua, que ficava num porto ou algo parecido, com a água muito parada, a faixa de areia estreita e um muro na parte de cima. Eu era ainda criança, e minha mãe esperava sentada nos observando. Já o capítulo que deu origem à série provocou em mim sentimentos ambíguos: descia a escada que levava ao village de veraneio que nós tínhamos e minha mãe me recebeu dizendo: “Olha quem está aqui”. Então olhei para o lado e vi meu pai sentado numa cadeira. Ele me olhou e tentou falar, mas sua boca não se abria, e seus olhos deixaram entrever uma angústia enorme. 

Nossa relação, quase sempre sem sobressaltos, foi marcada mais por silêncios que por colóquios. Passávamos horas um ao lado do outro trocando pouco mais do que meia dúzia de palavras, bebendo e observando a noite. Seu silêncio escondia um ensimesmamento, uma busca de tranqüilidade através da introspecção que acabei herdando. Enfim, era um silêncio que me acalentava, como um sopro numa ferida. Gostaria de ter dito tudo isso a meu pai, mas o meu próprio silêncio também era abissal. Uma vez, quando ele já estava doente, demos um passeio pela Cidade Baixa e paramos no Bonfim. Minha mãe entrou na igreja com minha mulher e minha filha e nós ficamos lá fora, encostados na balaustrada observando a vista. Sabia que não o teria por muito mais tempo, e pensei em dizer alguma coisa. Mas não consegui e ficamos conversando amenidades. Poupamos no essencial, como no poema de Brecht. A forma de me redimir é escrever textos como este, entre muitos outros que já escrevi sobre ele. Afinal, como disse o dramaturgo Mario Viana, nossa eternidade tem a duração da memória de quem nos ama.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Beleza roubada


Hoje pela manhã caminhei na orla, no trecho que vai do Jardim de Alá até a Boca do Rio. E passei pelas ruínas do antigo Aeroclube, que para quem não conhece era uma galeria a céu aberto à beira-mar, com lojas, cinema, restaurantes, livraria, lanchonetes e parques infantis. Um lugar agradável, aonde costumava levar minha filha para passear, tomar um sorvete e observar as ondas. Por conta de problemas judiciais que paralisaram uma possível reforma do local, hoje existe apenas a carcaça das antigas edificações, como naqueles filmes em que os personagens voltam a um lugar da sua mocidade e encontram apenas o espectro de um lugar que não existe além da sua memória, por mais que a construção em si esteja ainda de pé. Mais do que impressionado, fiquei triste com a destruição de mais um ponto de lazer e encontros na cidade onde moro.

E então me dei conta do quanto o Aeroclube representa uma espécie de microcosmo do que ocorre hoje com a própria Salvador, uma cidade que agoniza a céu aberto. Há 20 anos, mais ou menos, Salvador era bonita, aconchegante e boa de se viver, para onde vinham turistas do Brasil e do exterior, num clima de festa móvel que durava mais do que um verão. Tudo isso acabou, evidentemente, embora alguns incautos ainda venham para cá acreditando que estão desembarcando em Cancún ou Punta del Este, quando na verdade estão chegando a uma versão edulcorada de Porto Príncipe. Existe muita beleza ainda, obviamente, como pude perceber num passeio de barco pela Baía de Todos os Santos na semana passada. Mas é uma beleza roubada, agredida pela violência desmedida e por gestões incompetentes em sequência. O fato é que, ao se fazer uma ligeira retrospectiva mental da nossa história recente, é possível perceber os sinais de decadência que desaguariam no ambiente de guerra civil não-declarada em que vivemos.

Salvador nunca teve um projeto de cidade, assim como durante muitos anos o Brasil não teve um projeto de país. Fomos e somos governados invariavelmente por indivíduos ineptos ou corruptos – ou as duas coisas ao mesmo tempo. Nunca se procurou mitigar a nossa desigualdade social brutal, o nosso crescimento sem trégua e a nossa tendência ao descumprimento das leis e costumes morais mais básicos. A cidade onde vivi na infância, na juventude, ou mesmo aquela que conheci há menos de dez anos, quando ia ao Aeroclube passear com minha filha, se tornou um campo de batalha diário, no trânsito, nos bares ou nas ruas. Há muita gente andando armada, e há outros tantos dispostos a brigar por motivos os mais esdrúxulos.

A cidade com a maior população negra fora da África é também a que mata mais negros. Basta olhar as manchetes dos jornais para se deparar com notícias como “Jovem de 16 anos é assassinado no bairro de Pau da Lima” ou “Adolescente de 17 anos é baleado no peito em Cajazeiras VIII”. É um extermínio diário, motivado por disputas de pontos de tráfico (uma metástase que se espalha pelos bairros pobres), dívidas contraídas pelo consumo de crack, brigas fúteis ou apenas pela má sorte de se estar no lugar errado na hora errada. E cada vez mais esse extermínio silencioso respinga na classe média, que por muitos anos ignorou o problema e agora se vê sem saída, porque o problema deixou os guetos e desceu para as avenidas de vale que cortam a cidade e exibem as vísceras de sua miséria.

Não é à toa que o número de assassinatos em Salvador cresceu 70% nos últimos dez anos. Isso é palpável. Assim como é palpável a sensação de que não existe qualquer projeto mais amplo sendo pensado para reverter esse quadro. São apenas ações pontuais, tomadas quando a coisa aperta e a opinião pública começa a bradar. Até mesmo na condição de cidade com enorme potencial turístico, Salvador está ficando para trás. Quem vai a Recife ou Fortaleza – para citar outras duas grandes capitais nordestinas – percebe um rumo, um zelo, por mínimo que seja. Enquanto isso, caminhamos para a formação de estados paralelos, num cenário que se aproxima em muito do Rio de Janeiro das últimas décadas, onde a corrupção endêmica desafia qualquer noção de progresso. Somos um balneário decadente, como Acapulco ou Havana, no qual os turistas são entregues a ambulantes insistentes, motoristas de táxi ou de vans mal intencionados e trombadinhas sempre à espreita. Enquanto uma população com educação formal precária se entrega a um hedonismo desenfreado, traduzido num cenário cultural paupérrimo que louva a nossa sexualidade exacerbada em números musicais patéticos, consumidos com avidez tanto pela plebe como pela elite.

É duro constatar tudo isso. Perceber que a cidade em que nasci atingiu a derrocada sem ter passado pelo apogeu. Afinal, não tivemos por aqui uma era do jazz como a Nova York dos anos 20, nem nos tornamos um paraíso permissivo como a Paris dos anos 30 ou uma capital musical, linda e cálida como o Rio dos anos 50. Gosto de Salvador, da sua gastronomia singular, da sua luz, do vento que sopra do mar e me atinge agora, nesta noite de verão. Gosto da sua devassidão, do seu jeito descompromissado, da beleza extraordinária que se descortina quando passo pela Barra, pela Contorno, pela Ribeira. Mas a cada dia sou tomado pela perplexidade diante de um cenário que me assusta. Nossa cordialidade inata está sendo substituída por um individualismo atroz, e isso se reflete na cidade que vemos: suja, descuidada, brutalizada, pronta para virar geléia.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Obviedade mórbida


Nunca o sedentarismo foi tão combatido e desprezado como nos dias de hoje. Abdicar de fazer exercícios físicos regularmente, seja em casa, na praia ou numa academia, representa não apenas um descuido com a própria saúde, mas também uma forma deliberada de ficar de fora de boa parte das rodas sociais contemporâneas. Há um preconceito, de certa forma velado, contra os barrigudos (no caso dos homens) ou contra as portadoras de celulite, culotes e afins (no caso das mulheres). Enfim, cultua-se o corpo apolíneo, a musculatura bem torneada e a gostosura bem delineada como se fossem a expressão máxima da nossa evolução como espécie.

Desde que sem exageros, acho válida essa ditadura do esplendor físico. Mas, por outro lado, não deveríamos também combater o sedentarismo mental? Afinal, com o mesmo fervor com que se cultua o físico também se cultua a mediocridade. Estamos nos tornando mentalmente preguiçosos. Cada vez mais os encontros sociais, sejam eles reais ou virtuais, são pautados por platitudes e manifestações explícitas de preconceitos, seguidas invariavelmente de expressões como “exato”, “com certeza”, “é verdade” ou qualquer outro clichê que endosse o que está sendo dito sem que se necessite acrescentar uma opinião própria. Apoia-se o descalabro pela preguiça do embate. Padecemos de uma espécie de obviedade mórbida, que pode se manifestar no besteirol interativo da TV aberta, nos 140 caracteres do Twitter, em comentários sem pé nem cabeça no Facebook ou em qualquer outro canto onde alguém resolva exprimir sua opinião sem sequer pensar a fundo sobre o que está falando ou escrevendo.

Em seu blog Herdando uma Biblioteca, o escritor paranaense Miguel Sanches Neto aborda o assunto com perspicácia: “Precisamos de algumas frases feitas para manter uma conversa em situações de banalidade ou de formalidade. É isso que se espera de uma pessoa que vive no meio das outras: que ela possa reverenciar as convenções. O indivíduo, por exemplo, não acredita na mística do ano novo, mas deseja um bom ano para amigos ou meramente conhecidos. Neste momento, não é ele que está falando, mas a própria linguagem que funciona sozinha. Essas frases são acionadas nas ocasiões as mais diversas: para consolar pessoas, concluir um assunto, refletir sobre acontecimentos. Há quem as use com moderação, mas outros falam apenas por meio desses clichês. Por mais que se policie, ninguém está, no entanto, a salvo deles. Por trás de cada frase há um conceito sobre as coisas, sobre a própria vida. Então, ao repetir um desses chavões, nós estamos vendendo determinada visão do mundo, que talvez não seja nem a nossa, mas que passamos adiante como a expressão de uma verdade, de uma tendência, de uma ideologia”.

Sanches Neto toca num ponto crucial: estamos passando para a frente uma visão de mundo que sequer foi concebida por nossa própria mente, mas que endossamos meio que por letargia. Afinal, para forjar uma opinião consistente é preciso exercitar-se, pôr a musculatura dos neurônios para pegar peso, e não apenas entrincheirar-se em lugares-comuns ou frases feitas. Tudo é derivativo. Ou, como diria Chacrinha, “nada se cria, tudo se copia”. Hoje, enquanto almoçava num restaurante, via de relance pela televisão ligada – mas felizmente sem som – um programa de auditório, no qual o apresentador conversava com tipos oriundos de um reality show. E pensei comigo: para milhões de pessoas espalhadas pelo Brasil , aquele sujeito é a fonte primordial de informação a que têm acesso naquele momento, e de certa forma ele e os demais que participam daquele circo involuntário representam uma espécie de reserva moral da nossa sociedade, de exemplos a serem seguidos, da personificação do nosso ideal, por mais absurdo que isso possa parecer. Havia ali algo tão mecânico, tão artificial em sua busca pela atenção do telespectador, que eu me senti constrangido e tratei de prestar atenção ao meu prato.

Recentemente, o jornalista Daniel Piza falou em seu blog sobre a ausência de critérios no julgamento de uma obra de arte por parte do público, mesmo louvando a democratização da informação: “Se o espaço para a informação e o debate aumentou com a multiplicação da mídia, aumentou em proporção bem maior para o palpite e o preconceito. Nos assuntos culturais, em especial, desconfio sempre de quem faz distinções nítidas entre amador e profissional, até porque às vezes o profissional tem um olhar tão viciado e pedante que se afasta do espírito da obra de arte; mas interpretá-la sem esforço de compreensão e sem fundamento na opinião só nos vai deixar menos livres. Mesmo a resenha que tem certo número de linhas anda parecida demais com as estrelinhas dadas nos guias, os achismos lançados em twitters, o ‘curti’ ou ‘não curti’ das redes sociais. O crítico precisa conhecer técnica e história para primeiro entender o que o artista quis fazer e depois dizer se gostou ou não”. Piza decifrou a senha: ficamos menos livres quando pensamos menos. Ou seja: é preciso refletir, gastar neurônios como se gasta a sola de um tênis durante uma corrida de três quilômetros. Uma coisa não exclui a outra, é bom que se diga. Tanto o exercício físico quanto o mental são fundamentais para que nos tornemos pessoas saudáveis, em todos os sentidos. Nada mais nada menos do que aquela velha frase dos tempos de escola: “Mens sana in corpore sano”. Enfim, mais um clichê.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Odisséia


Outro dia,  enquanto cortava o cabelo num salão e folheava uma edição antiga da revista Veja, eu li uma matéria sobre os preparativos que estão sendo feitos para a primeira viagem tripulada a Marte. E descobri que um grupo de cientistas cogita um projeto à primeira vista descabido, mas que após alguns minutos de reflexão se revelou plausível: como a viagem de ida ao planeta mais próximo da Terra duraria em torno de cinco meses e a volta é ainda uma incógnita, eles defendem que os astronautas poderiam ser os primeiros colonizadores de Marte e, caso concordassem, ficariam lá para sempre.

Sim, passariam o resto de suas vidas naquele ambiente ameaçador de ar irrespirável, com aquela paisagem monótona de pedras e céu avermelhado. Não veriam mais o lugar em que nasceram. Não apenas o bairro ou a cidade, mas também o país, o continente e, por fim, o planeta. Não veriam mais os oceanos, o céu azul, o verde, os animais, a família, os amigos. Dariam as costas para tudo isso para cravarem seus nomes no célebre panteão dos grandes desbravadores. Foi aí, quando o autor do texto fez essa comparação entre esses astronautas e os navegadores do passado, que me dei conta de que toda essa odisséia no espaço pode sim se concretizar. Afinal, já existem precedentes na história da civilização.

Numa época em que acessamos qualquer lugar do mundo com o auxílio do Google Earth, não é fácil imaginar o que representaram para a humanidade as grandes navegações. Muitos homens se lançaram no oceano numa época em que existia apenas a Europa e uma parte da Ásia e da África. Do lado de lá do ponto mais avançado do continente – o Cabo da Roca, em Portugal – enxergava-se apenas o infinito. E ele era apavorante. Américo Vespúcio  chegou à América e seu nome batizou o novo mundo, mas ele imaginou que se tratava do continente asiático. Ou seja: ignorava a existência de toda aquela extensão de terra que vai da Groelândia à Terra do Fogo e, por trás dela, o maior dos oceanos, o Pacífico. Enfim, havia mais coisas entre a Europa e o resto do mundo do que supunha nossa vã filosofia. 

Quando criança, li com avidez um livrinho que contava a saga do navegador Fernão de Magalhães, cuja esquadra foi a primeira a dar a volta ao mundo. Partiram mais de 500 homens em cinco naus. Voltaram pouco mais de 30, se a memória não me falha, amontoados, doentes e famintos na menor de todas as caravelas. Magalhães ficou pelo caminho, ao morrer combatendo povos indígenas que tentava subjugar em algum canto do globo. O fato é que descobrir mundos desconhecidos, lá pelos idos de 1400 ou 1500, era quase tão assustador e irreal quanto uma viagem a Marte, com a diferença de que hoje sabemos a distância exata, o trajeto a ser feito e até a paisagem que será encontrada quando desembarcarmos por lá.

Mas a idéia do exílio voluntário eterno me intriga e de certa forma me fascina. A matéria dizia que, com a brutal diferença de gravidade entre os dois planetas e a rotina estafante por lá, a expectativa de vida dos astronautas colonizadores seria de apenas 10 anos. Como alguém poderia em estado de plena lucidez tomar uma decisão como essa? A idéia, segundo os cientistas, seria criar uma colônia de humanos em Marte: eles criariam hortas, estudariam maneiras de extrair a água do subsolo e, caso tudo desse certo, procriariam. Teríamos, assim, os primeiros bebês nascidos em solo marciano – em que condições é impossível dizer. Com a passagem das décadas ou dos séculos e com a Terra exaurida, poderíamos – os mais afortunados – nos mudar para lá, deixando para trás o caos institucionalizado.

Mas… como lidar com a saudade? Penso no banzo que acometia os escravos saudosos, uma dor íntima e silenciosa por saber que nunca voltariam e teriam que seguir em frente em terra estranha, sob o jugo de gente hostil. Aos terráqueos solitários restaria apenas olhar o céu. Ali, em algum ponto do universo, repousaria uma estrela quase igual às outras, como é Marte quando a observamos daqui. É distância demais para um coração, por mais duro e impenetrável que seja. 


Todas essas especulações são apenas (ao menos por enquanto) delírio visionário. Mas foi o delírio posto em prática que permitiu à humanidade avançar – e em alguns casos retroceder. Seria, de todo modo, uma maneira de a espécie humana responder a um dos questionamentos primordiais que nós, como indivíduos, sempre nos fizemos, invariavelmente sem encontrar a resposta: para onde vamos?